Encontro um antigo colega na livraria. Estranhou o título que vou dar a este livro, mas por que Disciplina do Amor? O amor lá tem disciplina? Perguntou e deu a resposta: amor disciplinado nunca foi amor, pode ser método, arrumação no sentido de botar tudo direitinho nos lugares, cálculo, mas amor?! Pois o amor não era ilogicidade? Transgressão?
Digo-lhe que a indisciplina está só na aparência, na superfície. Na casca. Porque lá nas profundezas o amor é de uma ordem e de uma harmonia só comparável à abóbada celeste.
Ele ficou me olhando. Arqueou as sobrancelhas, supreendido. "Mas então eu só conheci o amor superficial? Cada vez que amei foi tanta insatisfação, a insegurança. Fico em total disordem!"
Desejei-lhe um amor verdadeiro e ele riu, desafiante. Quis saber se por acaso eu tinha atingido no amor essa plenitude celestial. Não respondi. Falamos então sobre política, livros. Mas quando saí da livraria, me vi Adão sendo expulso do Paraíso, o semblante descaído e o olhar no chão.
Lygia Fagundes Telles in A Disciplina do Amor
PS - E vocês, o que acham? Há disciplina no que chamamos de amor?
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