- Que idéia foi essa! exclamou a moça, além de desnecessário, não era... não era decorosa. Olha, se fizesse isso nunca mais devia falar-me...
- Não me perdoaria?
- Nunca!
- Entretanto, a minha posição é dura e triste.
- Não o é menos a minha.
- Ser amado, poder ser feliz tranqüilamente feliz para todos os dias da minha vida...
- Oh! isso!
- Não crê?
- Quisera crer. Mas está-me a parecer que a felicidade que sonhamos quase nunca sai à medida dos nossos desejos, e que mais vale uma quimera que uma realidade.
- Adivinho, disse João Aguiar.
- Adivinha o quê?
- Algum arrufo.
- Oh! não! nunca estivemos melhor; nunca andamos mais tranqüilos do que agora.
- Mas...
- Mas...
- Mas não permite que às vezes a dúvida entre no coração? Não é ele do mesmo barro que os outros?
João Aguiar refletiu alguns instantes.
- Talvez tenha razão, disse ele enfim, a realidade não será sempre tal qual sonhamos. Mas isto mesmo é uma harmonia na vida, é uma grande perfeição do homem. Se víssemos logo a realidade como ela há de ser quem daria um passo para ser feliz?...
- Isso é verdade! exclamou a moça e deixou-se ficar pensativa enquanto o bacharel lhe contemplava a admirável cabeça e a graciosa maneira com que ela trazia os cabelos penteados.
Machado de Assis in Longe dos Olhos...
Imagem - Acervo pessoal
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